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Quando golpeada por contornos de vida interior, me curvo em reverência ao corpo que sente. Num tempo de antes, me derramo sem fronteiras, cristalizada em água semitransparente, no limiar do pulso que flerta com a morte afiando o silêncio da casa com palavras cortadas ao meio. Minhas memórias: um mal-estar que atravessa o coração num desamar além da conta. Nervura do gelo que desenha as fronteiras entre o sólido e líquido, morte e vida, o nada constar de um viver de qualquer jeito e nas sobras. Imigrante dos retalhos, sou densidade de seiva, cuja pressão é inferior à da água, gelo de dezessete faces cristalinas, com diferentes temperaturas. Apesar de tudo, conto comigo nas minhas primeiras contas, e deixo sumir o desejo de me esparramar pelo chão. Nessa curvatura de corpo, me escuto no encostar em qualquer parede, chorando o que precisa passar. Nesse lugar, encontro e me deixo ser.
Seleção Oficial do Festiva de Curtas: Make Art, not Fear 2021, em Porto, Portugal.