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Em inglês, estar menstruada é – literalmente – estar com um período. Por outro lado, um período, também em inglês, é um ponto final.
No meu corpo, o fim dos ciclos menstruais nem sempre terminam com o escoamento de sangue. A verdadeira menstruação é um reconhecimento do sangrar. Às vezes, passam-se anos sem que eu note a presença, ou a ausência, do sangramento.
Isso ocorre pela primeira vez quando me deparo com meus dedos ensanguentados. Estou certa de que matei alguém, só não sei quem, pois não vejo corpo algum. Esse feito, matar um sem corpo, é um ato e tanto.
Em vão, fico à procura do morto que não há, avaliando o que fui capaz de fazer – o meu assassinato. A presença do sangue e da morte em mim é tão viva como a ausência do corpo que lhes contém.
Neste resto amalgamado por diversas línguas sanguíneas, sou proprietária de uma letra que não me pertence, mas me contém. É nela que temo (e enfrento) os acontecimentos da alma na sua fratura constituinte.
É dela a foice que cria frases fora do sentido, numa lógica assassina que mata todos os pais e leitores que não me suportam – e que escreve o chão de cada dia como uma liturgia dos domingos.
Por isso sangro e resisto à morte como uma bendita testemunha do tempo.