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Foi num comentário qualquer seu que entendi o que me paralisa: o oceano corpo de uma outra mulher, a que não poderei ser jamais, mas que mesmo assim me contém em si. Nela, sou tormenta e não poder: penetrar e preencher, a ti ou a outra, os buracos já ocupados, enquanto os meus permanecem ocos, vazios de angústias, atravessados por mares escuros. Nesse meu estar sem lugar, sou sem par, ímpar no não saber como, ou a quem, desejar. Sou fora, mas dentro, de uma outra que quer saber nada de mim. Um mais valia que se perde num epicentro de dor e amor, na impossibilidade de ser protagonista do meu próprio corpo, na alteridade obscura que mascara todos os meus afetos. Em resumo, amar-te é revelar em mim o que mais odeio: minha sexualidade perdida, indigesta, e de ninguém.