O Vaso Vermelho

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Me deito no sofá e os livros de medicina nas prateleiras capturam minha atenção. Entre os vários títulos de psiquiatria está um vaso vermelho. A cor forte enfatiza o silêncio. Olho as paredes de concreto, escuto o murmurar do ar-condicionado. Não tiro o casaco e nem por isso me sinto desconfortável. Me ajeito, enfio as mãos nos bolsos, e encontro o dinheiro do fim da sessão.

A analista se move na cadeira. “Tenho pensamentos, vozes que me perseguem,” digo. A frase é inesperada. “Tenho medo de perder minhas palavras.” Ela quer saber mais. Explico que os outros médicos também queriam saber mais. “Eles vêm e vão,” afirmo. “Quando me internaram, estavam do lado de fora da minha cabeça, me dando ordens.”

“Deve ter sido assustador,” ela enfatiza. Solto um grunhido de um sim sem convicção do que sinto.

“Tentei falar, mas não me lembrava como. As algemas que me prendiam na maca machucavam. Lutava e queria saber onde estava minha mãe. Havia outros pacientes no corredor.” Noto que estou sem fôlego quando termino de contar a história.

Um momento depois, ela afirma: “Mas você está aqui agora, falando.” Penso que sim, mas não sei se é o bastante. Olho o vaso vermelho e tenho um súbito desejo de quebrá-lo.

Desvio o olhar. Minutos depois, a sessão termina. Fico nervosa ao me levantar e passar pela estante, uma sombra vermelha sobre mim. Meus dedos tremem quando lhe entrego o dinheiro. “Até semana que vem,” digo, apressando-me em sair dali.

Conto publicado em inglês em InTransitions.