Das Possibilidades Não Ditas

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Há um certo condicionamento nas doações induzidas

por caixas registradoras que te olham de forma incisiva

a incitar um sentimento de culpa sobre os dois reais

a serem adicionados na conta.



O que fazer se você é do país de onde eles afirmam

(teoricamente) querer erradicar a pobreza?

Devo ser ajudada também?



No Brasil, é aconselhável evitar dar esmola na rua

porque você pode ser roubado no processo, enquanto

no Canadá o assunto é impróprio no não dito.



São todos imigrantes ou nativos? Perguntar isso

é politicamente incorreto? Quando você pode

comparar pobrezas sem soar detestável

ou privilegiado?



Eu não sei o quanto você precisa faltar para poder falar.



“Por que você vem aqui?” Ele me pergunta, erupções nervosas

estourando na pele.



Estou aqui como voluntária, mas a ideia ainda me assusta.

Já fui admitida em outras instituições mentais

antes e não gosto delas.



“Te falei sobre a vez que eu fui assaltado

do lado de fora de uma loja de animais de estimação?”



Todo dia, antes de suas refeições serem servidas, ele conta

suas cicatrizes, três em cada joelho, depois de uma briga na instituição.



Árvores tremulantes, outdoors com declarações políticas, promessas

para diminuir o desemprego, e de repente é outono. Um homem fala

português ao telefone e acha que eu não estou entendendo – ou

ouvindo.


“Quando você vem?” Ele pergunta animado, antes de sair do ônibus.

Lá fora, uma loira com um cachorro espera por ele.



Me pergunto se por ele ser brasileiro somos semelhantes.



“Duvido,” digo a mim mesma em voz alta, entre olhares curiosos.



O que te sustenta? É uma ideia, uma ideologia, ou apenas ser simplismente?



Conto publicado em The Casserole.