Ano Novo

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Ando na praia.

O céu é acinzentado e as nuvens têm traços femininos. Observo com surpresa. É a primeira vez que noto algo tão expressivo no céu do Rio de Janeiro. Uma brisa fria faz meus olhos procurarem o sol, sem nada encontrar.

Quem passa por mim parece solitários.

A areia está cheia de ofertas. É véspera de ano novo. Uma rosa vermelha sugere o desejo de alguém. Uma criança fala consigo mesma, olhando para as próprias unhas.

“Rebecca?” Ela me surpreende e sinto sua mão fria, dedinhos sob meu ombro. Está maquiada e Bruno está no seu colo. “Procurei por você na festa ontem”, ela diz.

“Eu sei”, respondo, “saí logo depois de conhecê-lo”.

Ela usa o mesmo perfume da noite anterior. Parece que não dormiu. No banheiro da boate havia uma confusão de cheiros, mas o dela era suave, com tons roxos.

“Como foi a noite?” Pergunto. Desacelero o ritmo.

A babá chega e pega o menino.

“Marina, ex-mulher de Sergio, não nos deixa em paz”, afirma, frustrada.

Ela agarra meu braço com força e me desequilibra. Estou de bom humor e por isso ouço o que ela tem a dizer; é a virada do ano.

Ela ri e diz que tenho sorte de não ter marido, porque eles dão muito trabalho.

Ao longe, na calçada, seu marido, Sergio, conversa com alguém no celular.

“Você percebe que as nuvens têm formato de mulher?” Pergunto.

Ela para de falar e olha pro céu. Caminha sem jeito na areia, pulando as garrafas de champanhe e outras oferendas espalhadas na areia. “Acho que sim”, ela sorri, esquecendo do drama. Desta forma, ficamos sentadas perto do oceano, à espera das ondas.

Conto publicado em inglês em FlashFlood