A Fronteira

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Evidente que não tenho qualquer controle
sobre meu corpo.

Inútil também sofrer pelo que já se foi:
um não conseguir voltar atrás.

Fecho meus olhos e entendo a aversão:
minha crucificação em sua imagem,
apegada (pregos nas extremidades)
na morte do corpo.

Sacrificar meu desejo pelo seu.

A princípio as estacas cerceando meu olhar
parecem funcionar: um querer nos limites.

O inusitado ocorre quando a entrada do amor
desestabiliza minhas fronteiras,
invadindo uma suposta territorialidade.

Intragável vulnerabilidade do saber-me outra
de você: inúteis tentativas de fixar lugar
e escorar vazios de olhar.

Buracos sem estacas revelando
a memória ancestral de fronteiras fantasmas
– tentativas vãs de se defender
do que trespassa na ilegalidade.

Barbárie sem pertencimento:
ombros amparando muros de ar,
imagens sem comarca.

Selecionado para a mostra 3 min Film Festival em Santa Barbara, California, nona edição, categoria Poetry in Motion, julho 2021 e Honorable Mention em curta Experimental.

Publicado em Third Estate Art, Janeiro 2024.