A Cadeira Vazia


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Sinto falta do que desejo. 

A cadeira vazia no quarto é o enigma da minha vida.

Desde o princípio, tentei achar alguém para preencher aquele lugar.

Agora, sinto-me atraída pela possibilidade do vazio,

de um alguém que poderia preencher, mas não o faz. 




Desde criança, temi duas coisas que eventualmente viriam a acontecer

muito brevemente: a morte de minha mãe, e a vida sem par, sozinha.

É daquelas coisas da vida. Tudo o que você mais teme,

acontece para te fortalecer. 


Desde muito pequena, havia a urgência de uma ausência:

seja de uma babá, seja da mãe que se ocupa do pai. 

Aprendi, de um jeito forçado, a preencher todas as cadeiras vazias

de minha vida com possibilidades de falta. 



No canada, anos depois, fui relembrar disto quando mudei uma cadeira de lugar. 

Ao lado da minha cama, aquele objeto me trouxe de volta a falta da infância,

e a fantasia do saber vir a preenchê-la. 



Assim sou: um aprender a amar à distância – à mãe, principalmente. 



Sempre fui perdidamente apaixonada por minha mãe. Não tenho razão de negar.

Está escrito no meu nome. E quanto mais longe ela estivesse, mais dentro de mim

a sentia e compreendia. 



Tamanho sofrimento me ensinou a matéria prima de que se fez desejar em mim:

na falta, do que sou, é de lá onde posso dizer. 



Publicado na revista The Antonym.