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A mulher atrai uma joaninha para perto de si. Ela pousa no seu braço e imediatamente fecha as asas, paralisada, como se esperasse por algo. Tem pequenos pontos pretos e faz cócegas na pele quando move.
É verão e a mulher está usando uma saia verde musgo e uma camisa vermelha. Para um estranho, estas podem parecer roupas de inverno, mas como ela está na sombra, numa mesa na varanda, não destoam do contexto. Ela lê os classificados e fantasia estar ao lado de alguém.
No dia seguinte, decide reformar o quarto; está cansada do colchão jogado no chão. Coloca um vestido feliz, sandálias, bijuteria e sai. Um sentimento de brasilidade toma conta do seu corpo bronzeado, cabelo castanho, sorriso largo.
Decide comprar uma cama nova. Na loja, menciona que gosta de dormir sozinha e se surpreende com o que fala. O vendedor sorri, mas não diz nada. Em casa, espera pela cama nova, experimentando uma nova sensação: solitude.
A primeira noite na cama é confortável. Ela não sabe exatamente o que quer. Seus pensamentos estão em constante procura. Aprende a viver sozinha, na sua própria companhia. No começo acha difícil, teme estar sendo observada. Com o tempo, se acostuma, e até sente culpada de ser capaz de ser feliz sozinha.
Não está acostumada a uma vida de privilégios.
Sai da adolescência com a sensação de que precisa pagar pela felicidade, uma dívida com o mundo. O desejo de encontrar uma companhia, alguém igual a ela, desaparece. Casualmente conhece pessoas, homens e mulheres, e se apaixona por todos eles, mas não fica com ninguém. A joaninha retorna ao seu braço e enche seu coração com sua presença.
Conto publicado em inglês em Hirschworth