Na Trajetória de uma Queda


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Por quê, ao pentear os seus cabelos sedosos,

eu tenha a sensação de que a opacidade dos fios

brancos corroam meu coração com um súbito

sentimento de pena. Quem há de envelhecer

primeiro, eu ou ela?

Eu amei uma mulher, esta mesma mulher,

a vida toda, mas é no momento de me deparar

com a queda, a trajetória da minha própria

queda, que meu rosto, e as nossas rugas,

contenham o maior desconforto.

Ela me pergunta, “o que foi?”


Eu estou com o braço parado no meio do movimento,

num pentear sem saber por que, ou qual a razão

que a vida às vezes nos coloca em questões que não

estamos dispostos a responder e nem a indagar.


Eu respondo, “tenho a sensação de que a brisa está gelada.”


E passa por entre as frestas, entre beijos

carinhosos na bochecha. A nossa cozinha

tem o chão branco, e alguns fios de cabelo,

cinzas, desaparecem entre os azulejos.


Meus pés estão gelados, e venta muito lá fora.

Publicado em inglês em The Pavilion.