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O desejo do meu nome é constitutivo. Ser desejada no nome não é só estrutura mas condição. Um chamado recorrente, reiterado continuamente para que eu pudesse, de alguma forma, existir. Sei disto após jogar luz e palavra a lugares sombrios da minha alma, para além da ciência. Precisei fazer muito esforço para nascer. Imagino que a trajetória de qualquer gestação seja assim, mas só posso falar de mim, mesmo que em fantasia.
Minha mãe foi uma grande aliança, a maior que já tive até hoje. Só ela sabe, ou sabia, como me desejou. Hoje entendo isso. E choro sua a perda mas ao mesmo tempo o nosso reencontro em mim. No dia do meu aniversário, entendo, pela primeira vez em vida, o significado do meu nome. Compreendo, que sem a ajuda deste nome próprio, não teríamos conseguido atravessar vida e morte juntas.
Dizem que a minha avó materna escolheu meu nome, talvez por entender, também, além do útero, o que essa filha precisava, ou o que faltava naquela casa. Essa letra própria da avó me segurou firme naquela barriga. Sei que se não tivesse sido desejada em nome próprio, não estaria aqui.
O mérito não é só meu. O desejo da minha mãe foi enorme, me desejando acima e aquém de qualquer nome (e desejo) do pai. Só eu poderia ser filha da minha mãe, e só ela poderia me parir. Não sou mãe, mas fui filha, e hoje, acima de tudo mulher, com desejo de mulher.
Esse legado é também o de minha mãe que foi mulher e mãe em seu útero, com todas as complicações modernas que isso possa vir a implicar. Mas essa é a minha maior herança. E o maior presente que poderia receber.
A perda da minha mãe, e tudo o que ela representa, confirma ainda mais este não saber.