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Um dia acordo na companhia de uma palavra desconhecida – torosa – embaraçada de amor. Avisto o touro e toureiro entrelaçados – fêmea vestida de vermelho, inteiramente sedutora no seu pleno movimentar macho, forte pisada de robustas panturrilhas.
O que me atraí na cena é o enlace que não cessa de corromper velhos paradigmas, duvidando até mesmo dos planos de dominação do pai inventor do Brasil Pedro Álvarez Cabral.
O fim da conquista patriarcal às terras exteriores a mim acontece num sonho de Rousseau: uma mulher de peitos fartos, nua, deitada no divã em plena floresta.
À primeira vista, tudo no quadro parece absolutamente evidente.
Todavia, só após reposicionar os objetos da imagem incessantemente, entendo o que ela me revela. Meu desejo de reencontrar um outro (outra) Álvarez capaz de ressignificar um velho contrato social, reparando o que ainda me resta de território.
Dito de outra forma: reunir intimamente o assombrado trauma da repetição – anterior à miséria insignificante dos dois metros de distância entre nós – e reestabelecer o porvir.
Poema publicado na antologia “Entre o Sono e o Sonho,” Volume XII, Editora Chiado.