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Num dado momento da minha vida, descubro que amar de verdade é não fazer barulho e ficar olhando o que existe sem mim.
A tarefa de controlar o mundo me cansa. Prefiro que ninguém dependa das minhas mãos, ou mesmo da minha linguagem. Até porque minha terceira pessoa só fala inglês. O meu Eu é em português.
Tenho uma solidão responsável, insuportavelmente demais, e que está no escrever algo por ser a minha única saída. Não sei somar como os matemáticos ou entender a lógica dos físicos. Oculto minha realidade no meu rezar o terço imaterial da angústia.
À vista, finjo ser categorias pares e ímpares, dona de dedos infelizes, sucumbidos. Por quase uma vida inteira, sou-me incapaz no “pater família:” excesso descaso de números.
A minha urgência de sussurrar-te histórias sacramentadas (um passado de mulheres que desmatavam a si mesmo só para colher calafrios de vida imprópria) é um ansiar ser menos embaralhada entre demasiados pensamentos. Sem precisar confessar o toque da folha verde de agave, numa líquida sensualidade de língua afiada.
Um buscar erotismo livre no desestabilizar da palavra: faltar em medidas, cifras ou balanças. Beijar o destino com lábios carnudos. Morder meu triângulo cartesiano em inúmeras partes até extrair dele o intrínseco elixir do palmito, morte e vida em palmeira.
Seleção Oficial no International Migration & Environmental Film Festival 2021.
Video poema publicado na revista literária The South Shore Review.